Entrevistas

Centros UCARE cooperam entre si para que se “conheça e trate melhor a urticária”

30 Set. 2022

Os anos de experiência e a determinação levaram a que a Prof.ª Doutora Margarida Gonçalo juntasse à função de diretora do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) à de coordenadora do Centro UCARE – Urticaria Centers of Reference and Excellence – do mesmo Serviço inaugurado em 2017. O centro é dedicado ao diagnóstico, tratamento e investigação da urticária. A dermatologista partilhou quais os objetivos e critérios para o processo de certificação UCARE concedido pela Global Allergy and Asthma European Network (GA2LEN).

O Centro UCARE do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, integrado no serviço de Dermatologia, é um dos três referenciados e certificados internacionalmente para o estudo e tratamento da urticária crónica, em Portugal. Em contexto europeu, entre 1 a 2 % da população padece de urticária crónica duradoura. Além da patologia crónica, existe também a aguda surgida na sequência de um medicamento, infeção ou alimento atingindo cerca de ¼ da população e que pode ocorrer em qualquer momento da vida. No âmbito da efeméride do Dia Mundial da Urticária, celebrado a 1 de outubro, a especialista aproveita a oportunidade para advertir para o senso comum de se considerar a urticária como uma alergia e esclarece que não é de todo verdade: “Numa pequena percentagem de casos, a urticária sobretudo a aguda pode ser uma alergia”, porém, “na grande maioria dos casos, a urticária crónica é uma doença autoimune em que o organismo tem em circulação substâncias que vão estimular os mastócitos que vão provocar as lesões da urticária”.

Considerando que a célula que causa a urticária é o mastócito existente na derma e que, quando estimulada, liberta a histamina e faz com que os vasos sanguíneos dilatem, provocando pele vermelha e inchada, dos tratamentos iniciais constam os medicamentos anti-histamínicos que vão bloquear os recetores da histamina para quando o mastócito expelir a histamina, todos os recetores onde ele vai atuar, nos nervos e nos vasos sanguíneos, possam estar bloqueados.

Assumindo-se como primeira linha terapêutica, os anti-histamínicos vão resolver 25 a 30 % dos casos, indica a Prof.ª Doutora Margarida Gonçalo, constatando que nas formas crónicas recorre-se à utilização de outros fármacos aprovados para o tratamento nomeadamente os anticorpos monoclonais anti-IgE, este em segunda linha, e um imunossupressor, em terceira linha, que faz parte das “guidelines de tratamento” denominado ciclosporina, mas que a sua utilização é off-label” por não estar “dentro das indicações aprovadas da ciclosporina” e porque contém “alguns efeitos secundários”.

Prestes a obter a recertificação, a diretora do Serviço de Dermatologia do CHUC, explica que para se requerer a certificação de um Centro UCARE é preciso atentar a 32 critérios pré-estabelecidos relacionados com a infraestrutura, adesão às recomendações internacionais de diagnóstico e tratamento, investigação, educação e divulgação para, assim, serem postos em prática os objetivos propostos de aumentar o conhecimento sobre a urticária, através da investigação e educação, melhorando o diagnóstico e proporcionando excelência nos tratamentos, padronizando a abordagem da pessoa com urticária.

Mais de uma centena de centros compõem a rede de Centros UCARE em todo o mundo, havendo iniciativas para a criação de projetos que promovam a coordenação entre os vários centros e, deste modo, tirarem o melhor proveito do processo investigativo ao nível do diagnóstico e tratamento dos doentes com diferentes tipos de urticária, o que, na opinião da coordenadora, traduz-se numa “grande facilidade e mais valia poder partilhar os dados entre todos os centros de forma a conhecer melhor a doença e saber como a tratar”.

Para concluir, a Prof.ª Doutora Margaria Gonçalo expõe que o reconhecimento enquanto centro UCARE implica haver uma subespecialização dedicada ao tratamento de casos mais graves de uma patologia em específico, neste caso da urticária, e que, por sua vez, vai permitir o reconhecimento de diversos aspetos em contexto do tratamento e das respostas concedidas aos doentes, permitindo “tratar melhor os doentes”.

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